A nova rodovia de 35,5 km que o Estado planeja construir entre Caraguatatuba e São Sebastião, a maior obra no litoral norte de São Paulo desde os anos 70, vai exigir a derrubada de pelo menos 873 imóveis e o corte de 940 mil metros quadrados de mata atlântica. O tamanho da área desmatada equivale a cerca de dois terços da área do parque Ibirapuera, zona sul de São Paulo. No total, serão desapropriados 363 hectares, ou dois Ibirapueras.O impacto vai ocorrer mesmo com o projeto “ecológico” desenvolvido pelo governo José Serra (PSDB), inspirado, segundo o secretário Mauro Arce (Transportes), no modelo da nova Imigrantes, com grandes trechos em túneis e viadutos para reduzir o desmate, ainda que com custos muito maiores.
Os dados estão no EIA-Rima (Estudo-Relatório de Impacto Ambiental). Haverá oito túneis, com extensão de 6,2 km, 33 viadutos e oito pontes, números que ainda podem mudar até a conclusão do projeto básico. Também está prevista uma intersecção com o trajeto da nova rodovia dos Tamoios (SP-99), que deve ser duplicada.
A nova estrada é a maior obra no litoral norte desde a construção do porto de São Sebastião. Deve custar cerca de R$ 1 bilhão e durar três anos. Projetada para eliminar o gargalo rodoviário entre as duas cidades e dar acesso ao porto de São Sebastião, a obra se soma a outras que vão alterar o perfil da economia do litoral norte, com ênfase na atividade portuária e de óleo e gás.
Segundo Arce, o cronograma prevê que a rodovia esteja licenciada até o final deste ano. Ficaria para o próximo governo o modelo de construção (por parceria público-privada, privatização ou verba do Estado). Na fase de licenciamento, o governo poderá alterar o projeto, adaptando-o a pedidos da comunidade local e de órgãos como o Ibama (ambiental).
Quando for concluída, a estrada vai provocar alterações no trânsito entre São Sebastião e Caraguatatuba, pela Rio-Santos (SP-55), e no interior das duas cidades. São Sebastião terá acesso exclusivo ao porto e uma alça que vai desviar o tráfego dos trechos sinuosos entre o centro da cidade e Guaecá, onde terminará a estrada. Dali, chega-se à balsa para Ilhabela.
O número de 873 imóveis a serem demolidos pode mudar, mas o EIA-Rima já prevê que a maior parte, 373 casas, fica na Topolândia, bairro carente e violento de São Sebastião.
Contrário a novos desmatamentos no litoral norte, o ambientalista Eduardo do Rego, do Conselho Estadual do Meio Ambiente, considera a ampliação da capacidade viária a intervenção de maior impacto ambiental na região em décadas. “A nossa briga era que fosse tudo feito por túnel e viaduto nas áreas de mata. Depois, não dará para voltar atrás.”